domingo, 27 de dezembro de 2015

Os mais belos livros do ano.


Fim do ano é tempo de balanço. E eu abalanço-me aqui a escolher os livros mais belos do ano. São todos óptimas prendas de Natal de última hora. Como não há bela sem senão, o seu preço é maior do que a média. Pois que a sugestão de livros mais dispendiosos fique como um sinal do desaperto do cinto. Ouço dizer que vem aí a reposição gradual dos salários e da sobretaxa de IRS. Fico, como toda a gente, satisfeito com o anúncio e mais disposto a abrir, nas livrarias, os cordões à bolsa. O certo é que, conforme me lembram os pontuais extractos, o meu banco ainda não sabe desse fim da austeridade. Mas eu quero lá saber se, ao comprar um belo livro para mim ou para oferecer, o saldo fica mais baixo... Investir em belos livros é investir na beleza e a beleza é sempre consoladora. A ordem é a alfabética do apelido dos autores (o título parcialmente em inglês indica que a edição é bilingue).
– Pepe Brix, Os Últimos Heróis. The Last Heroes, Matéria-Prima Edições. Este livro de fotografias ilustra a odisseia dos pescadores portugueses a bordo do arrastão Joana Francesa, um dos últimos bacalhoeiros nacionais, nos mares frigidíssimos da Terra Nova. Em parte saiu na National Geographic Portugal de Fevereiro passado. Mas a reportagem, alargada e em grande, é outra coisa. Passei a olhar o bacalhau com outros olhos. Patrocínio da Riberalves e apoio do Museu Marítimo de Ílhavo, que exibe um aquário de bacalhaus.
– Hélder Carita e António Homem Cardoso, A Casa Senhorial em Portugal. Modelos, Tipologias, Programas Interiores e Equipamento, Leya. Lançado há dias numa das casas senhoriais mais belas de Portugal, o Palácio dos Marqueses de Fronteira, em Lisboa, um historiador de arte e um dos fotógrafos portugueses mais conhecidos mostram, sob a égide da Associação Portuguesa de Casas Antigas, o exterior e o interior de algumas dessas mansões. Os autores já nos tinham dado edições de luxo como Oriente e Ocidente nos Interiores em Portugal (Civilização) e Tratado da Grandeza dos Jardins de Portugal (Círculo de Leitores) e esta é mais uma, para se sobrepor a elas na mesa do café.
– Miguel Claro, Dark Sky. Alqueva. O Destino das Estrelas. A Star Destination, Centro.Atlântico.pt. Neste Ano Internacional Da Luz (notícia de última hora: vai, em Portugal, ser estendido até Junho) um livro de um astrofotógrafo português de reputação internacional que documenta a Reserva “Dark Sky” do Alqueva, a primeira reserva mundial certificada como Destino Turístico Starlight. Imagens avassaladoras que nos vêm de longe vistas do grande lago alentejano!
– Umberto Eco, História das Terras e dos Lugares Lendários, Gradiva. O historiador e escritor italiano, autor de O Nome da Rosa, brinda-nos com mais uma das suas belas obras, que junta erudição e rica iconografia. Quem gostou da História da Beleza ou da História do Feio ou ainda de A Vertigem das Listas (todos eles saídos na Difel) não pode perder este roteiro dos lugares maiores que a pródiga imaginação humana criou.
– Mário Ruivo (coordenação), Do Mar Oceano ao Mar Português. From the Mar Oceano to the Portuguese Sea, Edições CTT e Centro Nacional de Cultura. Um renomado cientista do mar português coordenou, para este cuidado volume dos Correios de Portugal (como é timbre desta instituição), um conjunto de textos ricamente ilustrados sobre a nossa antiga e íntima relação com o mar, que vão da história à gastronomia. Inclui uma colecção de selos.
– Peter Sís, O Piloto e o Principezinho. A vida de Antoine de Saint-Exupéry,Jacareca. Um autor premiado de livros infantis encanta-nos com o extraordinário design de uma biografia do autor de O Principezinho (que, pesem embora os seus 72 anos, permanece actualíssimo, como mostra a sua recente adaptação ao cinema em desenhos animados). Eu já conhecia aÁrvore da Vida, a biografia de Darwin distinguida como melhor álbum ilustrado do ano pelo The New York Times, mas com o novo livro fiquei rendido ao artista norte-americano nascido na Checoslováquia.
– Vários, O Círculo Delaunay. The Delaunay Circle, Centro de Arte Moderna, Gulbenkian. Ainda no Ano da Luz é publicado o catálogo de uma extraordinária exposição de Sonia e Robert Delaunay, o casal de pintores franceses (ela vinda da Ucrânia) que em Junho de 1915 se estabeleceu em Vila do Conde para fugir aos horrores da guerra que grassava na Europa, tendo convivido com pintores como Amadeo de Souza-Cardoso, Eduardo Viana e José de Almada Negreiros. Lembro que Sonia Delaunay foi alvo de uma exposição recente na Tate Modern em Londres. Para ficar espantado com as suas composições de cor, basta ir à Fundação Gulbenkian à exposição comissariada por Ana Vasconcelos.
Boas leituras e Boas Festas!

Professor universitário (tcarlos@uc.pt) - Jornal Público - 27.Sez.2015

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